sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Desenvolva sua carreira



Saldo positivo


A crise mundial deflagrada em setembro do ano passado teve seu lado positivo. Ela equilibrou algumas distorções no mercado de trabalho e trouxe para a realidade salários que até pouco tempo estavam hiperinfl acionados. Essa adequação, entretanto, não significou desaquecimento total. “Há uma sensação de que sobram profi ssionais qualificados no mercado, mas isso não é verdade”, diz Fernando Mantovani, diretor da Robert Half, empresa de recrutamento executivo com escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Ele acredita que muitas empresas aproveitaram o momento econômico turbulento para colocar ordem na casa, rea valiando a remuneração de seus funcionários e, em vários casos, promovendo substituições. No fi nal das contas, o bom profissional é o grande beneficiado. Muita gente que tinha performance mediana e salários astronômicos está sendo substituída por profi ssionais gabaritados e com salários mais compatíveis com a realidade. Nos três primeiros meses do ano, houve retração de ofertas de emprego. Desde abril, no entanto, alguns setores retomaram a busca por talentos.
Os engenheiros continuam disputadíssimos nos segmentos de óleo e gás e construção civil. Em seguros, outra área que só vem expandindo, eles também são bem-vindos para preencher cargos técnicos. Dentro das corporações, os profi ssionais de fi nanças tornaram- se ainda mais essenciais. Como consequência, muitos cargos foram valorizados e o salário médio do gerente de planejamento financeiro, por exemplo, saltou 42% em relação ao ano passado. A área comercial foi outra que ganhou os holofotes. Em momentos conturbados, as empresas querem vender.

Porém, sem grandes custos por unidade vendida. Esse é um dos fatores que explicam um pouco da perda de prestígio do departamento de marketing — o orçamento ficou mais enxuto. Há novos desafios, no entanto. A crise acelerou a preocupação com temas de meio ambiente e sustentabilidade. Outra mudança que ela trouxe foi que, agora, conseguir aumento mudando de emprego requer mais negociação. “No ano passado, chegamos a fazer transição em que a proposta era até 80% superior ao que o profi ssional ganhava”, diz Fernando. Propostas que ofereciam 20% de aumento muitas vezes nem eram consideradas. Com a desaceleração da economia e com os ânimos corporativos menos inflamados, mudanças com aumento de 30% voltaram a ser consideradas excelentes. Mais do que antes, o profissional precisa demonstrar capacidade de tomar decisões acertadas em pouco tempo, foco em resultados, flexibilidade e profundo conhecimento do mercado em que a empresa atua.

“Antes, apenas o gerente entrevistava o candidato a cargo de coordenação”, diz Miguel Monzu, diretor de recursos humanos da farmacêutica AstraZeneca. “Agora, até o presidente participa”, diz. Na média, a remuneração fixa da maior parte dos profissionais acompanhou a inflação e os dissídios de cada categoria. A expectativa é de que os bônus, no geral, fiquem abaixo dos valores pagos em cima dos resultados de 2008. As regras possivelmente não tenham mudado, mas atingir os mesmos níveis é que ficou mais difícil.

A seguir, você confere as principais tendências de remuneração e carreira em seis áreas de atuação — finanças e contabilidade, engenharia, seguros, bancos, vendas e marketing e tecnologia. Os dados das tabelas, publicadas com exclusividade pela VOCÊ S/A, consideram salários de profissionais que atuam em São Paulo e no Rio de Janeiro. As informações foram consolidadas pela Robert Half com base em mais de 30 000 entrevistas com profi ssionais de diversos setores. Você encontra também um estudo sobre a diferença de custo de vida em 15 localidades brasileiras. São Paulo e Rio ainda pagam melhor, mas muitas oportunidades são geradas em outras cidades, que têm mais qualidade de vida com custos menores.

Valorizados pela crise

Os profissionais de finanças estão entre os mais cobrados, mas também entre os mais bem remunerados.

As áreas gerenciais de finanças obtiveram uma certa valorização do ano passado para este, principalmente em função da crise, que aumentou a importância dessas posições nas empresas. Um cargo extremamente valorizado, segundo dados da Robert Half, foi o de gerente de planejamento fi nanceiro. O salário médio dessa posição aumentou 42% no último ano. “Essa área é importante porque determina o comportamento que a empresa deve ter para manter o equilíbrio financeiro. É ela que diz se a empresa vai ou não atingir as metas”, afirma Sócrates Melo, especialista em recrutamento na área de finanças e contabilidade da Robert Half. Também foram valorizados o gerente financeiro, cujo salário em grandes empresas aumentou 21%, o controller, com 23%, e o gerente tributário, com 9%. A crise mudou o perfil do profissional financeiro que as empresas procuram.

Aquele talento que era especializado em abertura de capital ou em captar recursos para expansão de operações, que estava em alta até setembro do ano passado e era disputado pelas organizações, foi substituído por outro, com perfil voltado a controladoria e custos. Além de conhecimentos técnicos, obviamente necessários, o mercado exige dos financeiros também uma boa dose de comunicação. Como afirma Caroline Tonisi, de 30 anos, controller do Grupo Guascor, empresa espanhola de geração de energia elétrica, não adianta saber muito de números, cálculos e projeções se o profi ssional não souber se comunicar interna e externamente. Formada em administração e com MBA em controladoria, ela entrou no grupo como estagiária e foi promovida a controller no fi nal de 2004.
De lá para cá, sua remuneração triplicou. “Nessa área, é preciso ter conhecimento econômico, financeiro, contábil e gerencial”, diz Caroline. “Isso é o básico.” É preciso também ter capacidade crítica e analítica e boa argumentação lógica para justificar por que um investimento é inviável, por exemplo. “Falar outros idiomas é fundamental porque me reporto diretamente à matriz em muitos casos.” André Takahashi, gerente financeiro da Marsh, complementa. “É fácil encontrar um financeiro bom tecnicamente”, afirma ele. “Quem quer se destacar, no entanto, precisa ser comunicativo, flexível e saber tomar decisões em diversas situações.” A pressão sobre a área financeira certamente aumentou nos últimos tempos. “Todos querem o maior número de informações precisas no menor espaço de tempo”, diz André. Quem consegue entregar o que a empresa precisa ganha mais responsabilidades — e mais recompensas. Um exemplo? Em 2006, André foi promovido a gerente de planejamento fi nanceiro. Depois, passou a gerenciar também as áreas de cobrança e tesouraria. Em janeiro, ele foi promovido a gerente financeiro. De 2007 para cá, sua remuneração dobrou.


FINANÇAS E MEIO AMBIENTE

Há dois meses, o presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Fábio C. Barbosa, disse ter esperança de ver as empresas produzir apenas um relatório, que unificasse todas as informações de negócios, finanças e sustentabilidade. A mesma opinião é também compartilhada pelo executivo chefe da General Electric, Jeff Immelt, e outros presidentes de multinacionais. Isso faz com que profissionais de contabilidade, auditoria e relação com investidores tenham de aprender a incluir passivos e ativos ambientais em suas planilhas.

Para classificá-los, será preciso entender minimamente a legislação ambiental e o impacto do negócio sobre o meio ambiente. O movimento pela sustentabilidade também beneficia advogados, economistas
,engenheiros, biólogos, agrônomos e outros tantos que ganham oportunidade numa área que emprega cada vez mais gente, paga cada vez melhor e começa a ganhar mais projeção e representatividade.

A quebra do monopólio do estado e a chegada de múltis aquecem o setor e criam oportunidades de carreira
Desde abril do ano passado, quando o mercado de resseguros deixou de ser monopólio do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re), o setor de seguros vive uma transformação. No mundo todo, a prática do resseguro é comum como forma de mitigar o risco, preservar a estabilidade das companhias seguradoras e garantir a liquidação do sinistro ao segurado. Com a abertura do mercado brasileiro, muitas multinacionais fi caram de olho em possíveis aquisições de empresas nacionais para atuar nesse nicho. A holandesa Aegon, por exemplo, associou-se à brasileira Mongeral.
A Minas Brasil foi adquirida pelo grupo suíço Zurich, e a Yasuda Seguros, controlada pela seguradora japonesa Sompo Japan Insurance, associou-se à Marítima Seguros. Essas mudanças valorizaram o profissional de seguros e transformaram seu perfil. Se até pouco tempo não era necessário ter um bom inglês para se destacar nessa área, agora a fluência no idioma já não basta. “É preciso traduzir a realidade local para alguém que está nos Estados Unidos ou na França, por exemplo”, diz Luiz Felipe Lula, diretor de recursos humanos da Chubb Seguros, com sede em São Paulo. Também é importante ter senso de urgência e responsabilidade na hora de fazer cotações. Alessandro Barletta Gomes, de 34 anos, gerente da fi lial carioca da Chubb, assina embaixo: “O mercado exige que o profissional tome decisões rápidas”.
Alessandro, que é mineiro, entrou na Chubb aos 22 anos, como técnico de seguros, na filial de Belo Horizonte. Aos 30 anos assumiu a operação da filial na capital mineira. Em 2007, foi transferido para o Rio de Janeiro e, desde então, gerencia a filial carioca da empresa. A transferência rendeu a ele cerca de 40% de aumento salarial. “Eu assumi uma operação maior”, diz. Quem quer fazer carreira nesse setor pode optar pela área técnica ou comercial. Na primeira, os cargos mais valorizados são os da área atuarial e os da área de subscrição.
O atuário é o responsável pela estimativa de riscos do produto, previsão da sinistralidade e formação de preços mínimos. Normalmente ele é formado em ciências atuariais, curso de graduação que vem ganhando força nos últimos anos. Já o subscritor não precisa de formação específica. É ele quem recebe as solicitações de cotação de seguros, avalia se as premissas de risco estão de acordo com as observadas pelo atuário e define o preço. “É o cérebro da empresa”, afi rma Fabio Saad, gerente de mercado fi nanceiro da Robert Half.
A carreira desses profissionais costuma evoluir rapidamente. “Há executivos de 25 ou 28 anos que tiveram até três promoções em um ano e meio, com aumento de até 60%”, diz Ricardo Barcelos, gerente da empresa de recrutamento Michael Page. A área comercial do setor de seguros é uma porta de entrada para quem quer migrar para esse segmento. É possível pegar carona na expansão dos seguros de afinidades, que são aqueles produtos de baixo custo, como seguro contra perda ou roubo do cartão de crédito. Para isso, o profissional pode vir de cartão de crédito ou da indústria varejista, da área comercial ou de produtos. A expectativa de Ricardo é que o mercado de seguros, que representa entre 2% e 3 % do PIB nacional atualmente, dobre sua participação nos próximos anos.

D&O

A busca pelo seguro de responsabilidade civil D&O, que quer dizer Directors & Officers, também vem crescendo muito nos últimos meses, principalmente depois dos casos dos executivos e acionistas da Aracruz e da Sadia que foram processados por investidores americanos por causa dos prejuízos sofridos em operações de derivativos cambiais. A função do D&O é exatamente a de proteger os executivos de ações movidas por acionistas minoritários que se sentem prejudicados por decisões equivocadas na gestão da empresa.

Reviravolta financeira

Profissionais que valiam ouro tiveram de se adequar à nova realidade de rendimentos mais modestos.

Profissionais do mercado financeiro, que até setembro do ano passado eram avaliados a peso de ouro nos bancos de atacado e demais instituições financeiras, viveram uma reviravolta nos últimos 12 meses. “Em 2007 e 2008, tínhamos cinco ou seis companhias e instituições financeiras buscando pessoas com o mesmo perfil, que fossem especializadas em mercado de capitais, IPO e relações com investidores”, diz Ademar Couto, sócio- diretor do escritório brasileiro da Odgers Berndtson. “Não dávamos conta de preencher essas vagas.” Com a chegada da crise, grandes bancos quebraram, outros reduziram o quadro de pessoas e o segmento no Brasil passou por uma fase de consolidação, com fusões e aquisições. A partir daí, as faixas salariais foram puxadas para baixo e os bônus já não são mais os mesmos. “De um ano para cá, o que percebemos foi uma queda no piso da remuneração variável, principalmente para quem estava acostumado a ganhar muito”, diz Fabio Saad, gerente de mercado fi nanceiro da Robert Half, citando as áreas de mercado de capitais, fusões e aquisições e operações estruturadas.
Se em 2008 o especialista de fusões e aquisições ganhava entre 80% e 200% do salário anual em bônus, agora, esse percentual foi reduzido pela metade. Na área de operações estruturadas, a história foi um pouco diferente. “Muita gente perdeu o emprego, mas quem permaneceu nas instituições não perdeu nem em salário nem em bônus”, diz Fabio. A demanda por analistas de investimentos, ou equity research, que tinham salários hiperinfl acionados no ano passado, também caiu. Em bancos de varejo, o mercado foi movimentado pela fusão dos gigantes — Itaú com Unibanco e Santander com ABN. Muitos profi ssionais de auditoria e análise de crédito, por exemplo, que viviam um momento de aquecimento, foram dispensados.

A boa notícia, entretanto, é que o mercado já vem demonstrando sinais de reaquecimento. Muitos bancos aproveitam o momento para montar equipes com salários e bônus adequados à nova realidade. “Já estamos com difi culdade para preencher todas as vagas abertas”, diz Ademar, da Odgers Berndtson. Sua explicação é que o mercado internacional está olhando para o Brasil como um dos grandes nichos de investimento, junto com a China, o que dá novo vigor à industria fi nanceira do país. O perfi l do profi ssional que quer ser disputado por bancos nesse novo ciclo de demanda não é muito diferente daquele que valia ouro até pouco tempo atrás. Ele vem de universidades de primeira linha, tem MBA, acumula experiência em mercado de capitais, área fi nanceira e relações com investidores e, de preferência, já tem alguma vivência internacional e conhece o novo investidor do Brasil.


Mercado de capitais

Segundo Fabio Saad, gerente de mercado financeiro da Robert Half, vale a pena ficar atento ao movimento dos bancos de atacado americanos que receberam uma fortuna dos governos Bush e Obama. Isso porque, como o governo dos Estados Unidos está restringindo o pagamento de bônus, muitas dessas instituições estão transformando a remuneração variável em remuneração fixa. “É uma estratégia para não perder talentos em todo o mundo, inclusive no Brasil”, diz Fabio. Com isso, profissionais de mercado de capitais poderão ficar tranquilos em relação à sua remuneração anual, independentemente dos resultados do banco.


Os queridinhos do mercado

Os engenheiros estão em alta em praticamente todos os setores da economia.

Na área industrial, que é a base para o guia salarial da área de engenharia da Robert Half, a demanda por engenheiros que trabalham com melhoria de processos e ganho de produtividade foi a que mais cresceu. “Em cargos isso se traduz principalmente em diretor da cadeia de logística, coordenador de PCP [planejamento e controle] e black belt [que lida com questões de qualidade e melhora de produtividade]”, diz Roberto Britto, gerente da divisão de engenharia da Robert Half. Na área de engenharia em geral, merecem destaque os setores de óleo e gás e construção civil. De acordo com Irajá Galliano Andrade, diretor financeiro da Iesa Óleo e Gás, com sede no Rio de Janeiro, esse setor foi relativamente preservado dos efeitos da crise, principalmente por causa do plano de investimentos de 174 bilhões de dólares da Petrobras até 2013. No entanto, se não faltam investimentos na área, faltam profi sionais qualificados.
“Não existe formação em engenharia com especialização em óleo e gás”, diz Irajá. Por essas e outras, a Iesa desenvolveu um programa de trainee que contrata engenheiros recém-formados para treiná-los on the job por dois ou três anos. Foi o que aconteceu com o engenheiro químico Antonio Freitas, de 30 anos, que hoje é engenheiro de processos da Iesa. Ele começou como estagiário em 2001, investiu tempo e energia em treinamentos internos e cursos de especialização. Desde novembro de 2007 Antonio trabalha no projeto Plano de Antecipação da Produção de Gás, na Refi naria Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, com a elaboração de fluxogramas, folhas de dados de processo, memoriais descritivos e relatórios de levantamentos de campo, listas de linhas e equipamentos, cálculo de bombas e de trocas térmicas. Todo esse grau de especialização se refl ete na remuneração.

O salário de um engenheiro especializado em óleo e gás chega a ser 30% superior ao de outras áreas. “A procura por profi ssionais para trabalhar nesse setor deverá cada vez mais superar a oferta”, diz José Carlos Pinto, sócio da área de gestão de riscos da Ernst & Young. Por causa disso, engenheiros de construção civil, infraestrutura e saneamento básico que estejam dispostos a adquirir novos conhecimentos podem ser bem aceitos para suprir a carência desse setor. Já o aquecimento da área de construção civil se deve, principalmente, ao programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida, cuja promessa é injetar 34 bilhões de reais de investimento na construção de 1 milhão de moradias para famílias com renda de até 10 salários mínimos.

Há ainda as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da Copa do Mundo de 2014. “A engenharia civil vai ser a bola da vez nos próximos cinco anos”, diz Romeo Busarello, diretor de marketing da construtora e incorporadora Tecnisa. Para ele, o setor precisa tanto de engenheiros de obras quanto de engenheiros de negócios. “O primeiro entende de cálculos, o segundo fez pós-gradução em marketing ou administração, é bem relacionado e muito convincente, além de ser mais bem remunerado”, diz.


AGRONEGÓCIO

Com a expansão do agronegócio, engenheiros agrônomos com alto grau de especialização são demandados para cargos técnicos e posições comerciais, que tratam de fertilizantes e sementes. Empresas que atuam na área agrícola também voltaram a recrutar pesquisadores. “Buscamos profissionais com mestrado e pós-graduação para várias áreas, principalmente pesquisa e desenvolvimento”, diz Antônio Russo, diretor de RH da Dow AgroSciences para a América Latina.

De olho na margem

Responsáveis diretos pelo faturamento das empresas, os profissionais da área comercial enfrentam maior pressão, mas têm reconhecimento à altura.

A área comercial tornou-se ainda mais essencial para as empresas, enquanto a área de marketing sofreu com a escassez de verba. Essa é a conclusão da Robert Half ao analisar a demanda e a valorização dos profissionais de vendas e marketing em 2009. “Durante a crise, as empresas querem vender, mas não querem investir”, diz Adriana Cambiaghi, especialista em marketing e vendas da Robert Half. Nesse cenário, ganharam destaque o diretor e o gerente comercial. Juan Rodriguez, de 32 anos, gerente comercial e de licitações da Bristol- Myers Squibb, que o diga. Ele começou na empresa como estagiário há seis anos, quando estudava administração. Seu crescimento foi rápido e consistente. No último ano, sua remuneração saltou 50%. Para quem quer seguir seus passos, a recomendação é clara: “É preciso ser ágil para tomar decisões, buscar alternativas de negócios, identificar riscos e, principalmente, entregar resultados”.
E foi exatamente o que Juan fez em cada etapa da carreira. Logo depois de ser efetivado na Bristol, como analista de licitações, ele foi promovido a coordenador da área de suporte à força de vendas. Nesse período, alcançou economia de quase 60 000 dólares para a empresa com ações simples, como estabelecer uma listagem de hotéis para os representantes de vendas. Não demorou nada e outras promoções chegaram. Em 2007, ele foi promovido a supervisor de suporte à força de vendas. Depois, assumiu o cargo de gerente de contas. Em agosto de 2008, foi promovido a gerente comercial da empresa. “A área comercial é uma válvula propulsora dentro das organizações”, diz Cícero Barreto, de 35 anos, diretor comercial da Omint, empresa de planos de saúde. Sua recomendação para quem quer sair do marketing para se aventurar em vendas é conhecer muito bem o mercado em que atua e desenvolver muita habilidade de relacionamento. “Quem prefere fazer um trabalho mais introspectivo pode não gostar da área comercial, que exige muito relacionamento.”

Os gerentes de key account, responsáveis pelo relacionamento com os maiores clientes da empresa, e os executivos de trade marketing, que cuidam das ações realizadas no ponto de venda, também ganharam importância durante a crise. Os primeiros porque o contato com clienteschave é ainda mais essencial em momentos conturbados. Os segundos porque, quando têm menos verba para investir em mídias tradicionais, as empresas acabam se voltando para o contato com o consumidor fi nal. Embora esses profi ssionais não tenham recebido aumentos signifi cativos de salário, a demanda por eles deve crescer nos próximos anos. Para Gustavo Pacheco, de 25 anos, gerente de key account da Whirlpool para região Centro-Oeste e Nordeste, a pressão sobre a área só vem aumentando, mas isso não é de todo ruim. “As empresas têm um horizonte de planejamento de pelo menos um ano”, diz. “Hoje, olhamos metas estabelecidas antes da crise, que para a realidade atual são superdesafi adoras”, afi rma. O lado bom, segundo ele, é que um profi ssional de vendas é movido por metas. Quanto mais desafi adoras elas são, mais longe ele pode chegar.


FARMACÊUTICAS

A indústria farmacêutica passou praticamente ilesa pela crise. A Bristol busca profissionais de vendas e marketing para cuidar de novos produtos. “De janeiro em diante vamos precisar de 45 superrepresentantes, que tenham conhecimento mais profundo dos produtos para atuar no ramo dos biológicos”, afirma Anibal Calbucci, diretor de RH da Bristol. Eles serão treinados nos Estados Unidos e terão remuneração acima da média do setor.

Novos horizontes

Há emprego e bons salários fora dos departamentos de TI, que tiveram seu orçamento reduzido.

A área de tecnologia da informação, da mesma forma que a de marketing, sofreu com o congelamento dos investimentos durante o período da crise mundial. Empresas que haviam defi nido uma boa verba para a implementação de um sistema de gestão, por exemplo, passaram a rever seus orçamentos e a se preocupar mais com a otimização dos recursos que elas já tinham. Como consequência, o profi ssional de TI teve de tirar o foco apenas da implementação de novas soluções para suportar a expansão de uma ou outra área da companhia para pensar numa boa forma de racionalizar processos e custos com o que a empresa já tem.

Os salários nessa área praticamente não tiveram alterações do ano passado para cá. “A TI foi impactada porque tem um alto custo não só de mão de obra, como também de investimentos”, diz Fábio Mandarano, gerente sênior da área de capital humano da Deloitte. “Ele sofre com a limitação de verba e é demandado pela redução de custo”, afi rma Fernando Mantovani, da Robert Half. Para Carlos Eduardo Ribeiro Dias, sócio-gerente da Asap, empresa que atua no recrutamento de executivos em cargos de início de carreira gerencial, há oportunidades para profi ssionais de TI em corretoras.

“Muitas estão estruturando a área de tecnologia para operar em mercado futuro de ações”, diz Carlos Eduardo. No mais, profi ssionais especializados em linguagens específi cas, como Java e .Net, devem voltar a ser valorizados assim que os investimentos forem descongelados. A dica para quem quer se destacar nessa área é dominar as novas tecnologias que forem surgindo no mercado. “Essa área não forma profi ssionais na mesma velocidade que o mercado precisa”, afi rma Fernando Mantovani.


CUSTO DE VIDA REGIONAL

São Paulo, Manaus e Rio de Janeiro são as cidades mais caras do país, enquanto Salvador e Recife são as mais baratas.

Quem está fora de São Paulo e do Rio de Janeiro e quer saber se a remuneração está adequada ao cargo, pode usar como base o estudo da Mercer, consultoria de RH, que avalia o custo de vida em 15 localidades do país. Segundo o levantamento, a diferença entre a cidade mais cara (São Paulo) e a mais barata (Salvador) não passa de 20%. As diferenças salariais de um lugar para outro seguem a mesma tendência, ou seja, não devem ultrapassar os 20%. “Em empresas médias e pequenas, o salário costuma variar na mesma base”, diz Marcelo Ferrari, diretor da Mercer. Marcio Lopes, da empresa de recrutamento Organiza Consultoria, de Salvador, afi rma: “Aqui, a remuneração média tem valores entre 15% e 20% abaixo da do Sul e do Sudeste”, diz.

Segundo Marcio, há uma exceção quando se trata de cargos de diretoria e alta gerência de companhias locais familiares. “Nesses casos, os valores chegam a ser 50% menores do que os praticados em São Paulo”, diz. Quando falamos de grandes empresas com presença nacional, no entanto, o cenário é outro. “Aquelas que têm gerentes em todas as regiões oferecem a mesma estrutura salarial para quem está no Sudeste ou no Nordeste”, diz Marcelo. As maiores regalias são observadas quando os profi ssionais são transferidos de cidade. Nesses casos, muitas empresas se encarregam de custos com mudança e aluguel.

Referência

FERNANDA BOTTONI (redacao.vocesa@abril.com.br) 09/09/2009 edição 135

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